Dieta do pai pode influenciar no desenvolvimento de câncer de mama nas filhas

Pesquisa feita em ratos indica que alimentação rica em gordura animal aumenta chances da doença na prole

Progamação pelo espermatozoide pode aumentar o risco de doenças nas filhas. (Fonte: NegativeSpace)

Apenas 5% dos casos de câncer de mama têm origem genética: os outros 95% possuem causa desconhecida. Fatores ambientais, como dieta, prática de exercício físico e tabagismo podem ser fundamentais para essa incidência. Uma hipótese sugere que a doença também pode ser “programada” no ambiente intra-uterino ou até mesmo antes, através de modificações coordenadas pelo gameta paterno. O espermatozoide é suscetível à mudanças em nível molecular, que podem ser ocasionadas pela dieta do pai ao longo da vida.  Essa programação do câncer de mama devido à dieta paterna é explicada na tese de doutorado de Camile Castilho Fontelles, Nutrição paterna pré-concepcional programa o risco de câncer de mama na prole feminina de ratos: efeitos opostos de dietas hiperlipídicas de origem animal e vegetal, orientada pelo professor Thomas Prates Ong.

A partir de experiências com ratos, a pesquisadora concluiu que a alimentação dos pais traz consequências para a saúde das filhas. “Esse modelo é mais fácil de trabalhar, pois você consegue controlar o que eles comem, as intervenções, o ciclo circadiano”, explica Fontelles. Além disso, desde a década de 1990, há um modelo de carcinogênese mamária bem estabelecido para ratos.

O experimento consistiu em comparar a prole de três grupos de roedores machos. O primeiro era o controle, que comia uma ração ideal para o crescimento correto dos ratos, chamada AIN-93G. O segundo grupo consumiu dieta com alto teor de gordura provinda de banha de porco, ou seja, rica em lipídio animal, enquanto o último tinha dieta com alto de gordura provinda de óleo de milho (gordura vegetal). Durante nove semanas, os animais receberam essa alimentação. “Depois, acasalamos esses machos com fêmeas que tinham comido apenas dieta controle e, quando as filhas nasceram, mantivemo-nas apenas com ração controle também”, diz Fontelles.

Com as filhas com 50 dias de idade, o câncer de mama foi induzido. Foi observado que a prole feminina dos pais que comeram dieta com banha teve maior chance de ter a doença, ao contrário das filhas dos ratos que se alimentaram mais de óleo de milho. “Imaginávamos que as duas dietas fossem piorar a incidência, não que a vegetal fosse proteger”, comenta.

Esse programação fetal foi notada por meio da análise de pequenos pedaços de RNA (responsáveis pela regulação da síntese proteica na célula), os chamados microRNAs. “Alguns microRNAs estavam alterados tanto no espermatozoide dos pais quanto na glândula mamária das filhas”, conta a pesquisadora. “A expressão de proteínas também estava alterada de um jeito que fazia muito sentido em relação ao que observamos no microRNA”.

Sabe-se que algumas doenças neurológicas, como distúrbios de bipolaridade, estão relacionadas a hábitos paternos. “Mas, como é uma área muito nova, não sabemos todos os fatores que influem a programação fetal”, alerta Fontelles. “Idade, alcoolismo, tabagismo e hábitos alimentares são alguns deles”.

Apesar de ser difícil comparar o resultado com humanos, já que sofremos diversas interações que podem modificar esse quadro, o estudo é interessante por demonstrar a influência de pais nas filhas. “É muito complicado falar que esse pequeno fator determina tudo. Contribui, mas temos que olhar para o panorama total para definir o que é mais saudável”, diz a pesquisadora. “De 30% a 50% dos cânceres poderiam ser prevenidos com alimentação e exercícios. Por isso, são recomendados esses bons hábitos para prevenir doenças não só na mãe ou no pai, mas também nos filhos”.

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