Programa de Fisioterapia em UTIs traz recuperação mais rápida e completa

Foto: Debora Stripari

A pesquisa em andamento hoje, na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas, trata de um assunto muito importante do qual pouco se pesquisa a respeito: as condições de saúde dos pacientes que têm alta das UTIs. Ela foi iniciada em 2013 com a tese de doutorado da pesquisadora Debora Stripari Schujmann, da Fofito, com orientação da professora Carolina Fu. Hoje, por ter sido considerada muito ampla, inovadora e com grande potencial, a pesquisa envolve também duas teses de mestrado e uma de iniciação científica.

O problema nas Unidades de Terapia Intensiva é que pacientes que entram nas unidades autônomos e funcionais, após terem alta, perdem parte de suas capacidades e passam a precisar de ajuda até para atividades cotidianas. As debilitações pós internação muitas vezes não têm relação com a doença do paciente, apenas com condições de permanência na UTI. Por isso, pacientes que possuem doenças que afetam as condições utilizadas no estudo, como vítimas de AVCs, não participam da pesquisa. A debilitação sem relação com a doença ocorre porque nas UTIs os pacientes são submetidos a longos períodos de imobilidade, o que causa danos sérios no sistema muscular, respiratório, cardiovascular e cognitivo. Os sistemas convencionais, aplicados na maioria das UTIs atualmente, envolvem fisioterapia 24 horas, mas isso, como aponta a pesquisa, não é suficiente para evitar o problema da perda de capacidades dos pacientes. Para isso, a pesquisa propõe a solução: um programa de progressão.

O programa de progressão proposto pela pesquisa consiste numa série de exercícios que se inicia precocemente na UTI, ou seja, antes do que geralmente se inicia. Ocorre uma avaliação das condições do paciente assim que ele entra e inicia-se a fisioterapia logo no primeiro dia, que contará com exercícios diários. Para isso, a intensidade dos exercícios vão de acordo com a capacidade motora do paciente em seu estado atual e vão se intensificando gradualmente até que o paciente atinja níveis iguais ou o mais parecidos possíveis com os apresentados quando entraram  a Unidade de Terapia Intensiva. Outra inovação trazida é que o programa leva muito em conta na avaliação, além da muscular, as condições de reabilitação pulmonar, cardiovascular e cognitiva: “A gente trabalha o paciente como um todo”, diz Debora.

Outro ponto de grande inovação no programa feito pela pesquisa está nos métodos e aparelhos utilizados nos exercícios. Contando com progressão e tratamento diário dos pacientes, a pesquisa se utiliza de aparelhos como o cicloergômetro específico para UTI, usado em exercícios para as pernas, e o aparelho de deambulação, para que o paciente consiga se levantar e mover sem necessitar da ajuda de muitos profissionais. Esses aparelhos são caros e o HC não os oferecia nas UTIs. Nesse ponto, a pesquisadora aponta a importância da Fapesp para a pesquisa, que financiou os aparelhos, permitindo a continuidade do estudo.

Além dos aparelhos citados, o programa também utiliza videogames na reabilitação dos pacientes, usando o console Wii, da Nintendo, que permite a interação física por sensores de movimento. Os benefícios desse uso, segundo Debora, são grandes, já que estimulam muito, além da motora, a capacidade cognitiva dos pacientes. Além disso, a lógica de avanço de etapas do videogame estimula os pacientes e dialoga com a progressão da fisioterapia, afirma a orientadora Carolina Fu. Isso se confirma com o fato de que até mesmo os idosos, que poderiam apresentar resistência ao uso da tecnologia, têm gostado muito do uso dos videogames, “É uma forma lúdica de desenvolver uma atividade”, diz Carolina.

Já participaram do estudo, até hoje, 20 pacientes. Debora afirma que ainda não há uma análise estatística devido ao início recente do estudo, mas que dos pacientes que já participaram do programa, 98% chegaram ao estágio final dos exercícios, que consiste em subir escadas, o que demonstra o sucesso do programa de progressão proposto pelo estudo.

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