Após boom das commodities, relação entre Brasil-China endurece

Era das commodities dos anos 2000: espaço para o aprofundamento e amadurecimento para inclusão da economia chinesa na América Latina. Fonte: CNN Money

Relação entre China e Estados Unidos com América Latina diferem desde o conceito de abordagem. A primeira é considerada assertiva e a segunda hegemônica. Mas qual os impactos disso? Como se dá essa relação? Buscando respostas, o pesquisador Francisco Urdinez, primeiro candidato de duplo diploma –  Instituto de Relações Internacionais e King’s College London- defende a tese de doutorado.

Apesar de já seguir a mesma linha de pesquisa desde o mestrado, Fernando conta em entrevista a AUN que a ida ao instituto londrino foi essencial para novo direcionamento na tese de doutorado. Onde pode ampliar o seu foco e contar com especialistas na economia chinesa dentro de um instituto dedicado apenas à China. Assim, com maior amparo analisou como a ascensão chinesa na América Latina foi condicionada negativamente pelos vínculos  já pré-estabelecidos que os países tinham com os Estados Unidos.

Desde os anos 50, 60 a China mantém relações diplomáticas com a América Latina, mas, apenas nos anos 2000 a inserção chinesa é mais preponderante com a compra de commodities (matérias primas) dos países exportadores da América Latina.

Aproveitando-se dessa oportunidade econômica, a China como economia de mercado da OMC (Organização Mundial do Comércio), ocupa uma lacuna de influência deixada na América Latina pelos EUA. Ao analisarmos, os últimos 15 anos, a abordagem da política externa norte-americana, principalmente, pós-atentado das torres gêmeas tomou novo rumo.

O que antes era quintal de influências e relações comerciais dos Estados Unido há mais de 150 anos, deixa de ser prioridade da política externa dos governos Bush e Obama, os quais centram-se mais no Oriente e no combate ao terrorismo.  Assim, essa América Latina esquecida, passa a ser lembrada por novos parceiros econômicos, como a China.

No entanto, essa relação Brasil- China, diferentemente da estadunidense, ainda não possui nenhum vínculo cultural ou científico como programa de cooperação, além das parcerias econômicas e agora eminentemente políticas. Aquele vácuo preenchido pragmaticamente pela economia chinesa toma novas formas em um cenário econômico distinto.

A era das commodities dos anos 2000 está dando espaço para o aprofundamento e amadurecimento para inclusão da economia chinesa na América Latina por meio de investimentos e concessão de créditos.

Fluxo de investimentos diretos chinês na América Latina.Fonte: UNCTAD (2016)Além de ser o principal parceiro econômico da China, o Brasil concentra, também, boa parte dessa política de continuidade. Para tal existe toda uma inteligência estatal guiando os investimentos. O governo chinês criou em 2001 e 2003 várias agências estatais, como a Sasac,  espécie de secretaria responsável pela supervisão de ativos, assim, como a administração das cerca de 160 maiores empresas chinesas. Desse modo, elabora perfis de mercado com uso de big data, gerando incentivos positivos e negativos de investimentos.

Como exemplo, podemos citar a recente compra da companhia brasileira CPFL Energia pela empresa chinesa State Grid por cerca de R$ 14 bilhões. Isso mostra que empresas como a State Grid, a maior no setor elétrico do mundo, tem interesse não apenas em importar produtos primários, mas sim de possuir uma relação mais profunda economicamente ao adquirir empresas brasileiras já consolidadas, apostando em um investimento a longo prazo.

Essa abordagem política econômica internacional faz parte do que o Francisco detalha na tese – diplomacia econômica – que consiste no uso de meios econômicos para fins de política externa, já que o forte poder econômico chinês serve como uma forma de criar vínculos políticos.

“Como tudo em política internacional você tem ganhadores e perdedores”, afirmou o pesquisador Francisco Urdinez, e esse resultado, muitas vezes já está pré-estabelecido no planejamento da política externa de um país com outro. E o plano chinês com a América Latina é extremamente claro: ampliar o espectro de influência na região e continuar colocando créditos e investimentos de empresas estatais e algumas privadas também.

E o Brasil? Do lado brasileiro não há uma política externa muito clara por parte do governo de objetivos e metas para com a China. O que contribui para manutenção de um cenário prejudicial a alguns setores da economia brasileira como as manufaturas brasileiras, que não conseguem sustentar-se diante da concorrência chinesa.

 

 

 

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