USP é pioneira em estudo de depósito de cobre no Carajás

Pesquisadora do Instituto de Geociências descobre primeiros indícios de atividade magmática na região

Mina de extração da Serra dos Carajá (Foto: T photography / Shutterstock.com)

Por Maria Beatriz Barros – mabi.barros.s@gmail.com

A Serra dos Carajás, no Pará, é famosa pela abundância de minerais reunidos em um único local, entre eles o cobre, ferro, ouro, prata, entre outros. Tamanha sua extensão que certos depósitos são sequer descobertos, quanto mais estudados. O Instituto de Geociências (IGc) da USP, no entanto, é pioneiro na decupagem de Borrachudo, reserva da companhia Vale do Rio Doce rica em cobre, que indica não só anterior atividade magmática na região — até então desconhecida —, mas datada uma era geológica inédita no Brasil até o momento.

Mariângela Previato, cujo mestrado foi orientado pela professora Lena Virgínia Soares Monteiro, coordenou o estudo. “É um jeito novo de olhar para os outros depósitos ainda não descobertos na Serra dos Carajás, também para os que já conhecidos, uma vez que o estudo de todos é baseado na comparação e similaridade”, explica a pesquisadora. O estudo geológico prévio de qualquer reserva mineral é requisito para a extração do metal em questão, pois conduz os processos de extração e revela se a mesma será rentável a companhias como a Vale do Rio Doce.

O cobre é usado principalmente na fiação e conduz eletricidade aos prédios e ruas. Ele também está presente nas ligas metálicas de diversos outros elementos, como níquel (moedas), ouro, prata e ferro.

A borda do quebra-cabeça

Mariângela faz uma analogia da aplicação de sua pesquisa às margens de um quebra-cabeça, que orientam a construção do desenho final. “As informações coletadas de Borrachudo ajudam a descrever a sucessão de eventos geológicos que moldaram a Serra dos Carajás, que revela como o cobre foi transportado ao local, ou porque algumas reservas possuem maior volume de minério, quando comparadas a outras.”

Amostras de rocha são retiradas do depósito no testemunho de sondagem, quando é perfurado até certa profundidade — no caso da pesquisa de Mariângela, até 350 metros abaixo do solo. Em seguida, Mariângela estudou a composição das rochas, chamada petrografia: “Usamos a Microscopia Eletrônica de Varredura para descrever quais minerais compõem o depósito em questão. Dependendo do como um elemento está alojado no outro, somos capazes de detalhar e hierarquizar os eventos que levaram a formação de tal composto”.

“Em seguida, partimos para as inclusões fluídas, um método para esmiuçar o fluído que carregou o cobre até o depósito de borrachudo, em questão de salinidade, temperatura entre outras variáveis”, continua Mariângela. “As rochas possuem bolhas na sua composição, com parte líquida, gasosa e às vezes parte sólida, na forma de sais. É um sal como se fosse um pedacinho da composição do fluído quando o mineral se formou.” A partir de tal procedimento, a pesquisadora descobriu que a origem de tal fluído era magmática. Este informação, somada a idade das rochas do depósito de borrachudo, cerca de 2 milhões de anos, indicam que nesta região do Brasil houve atividade vulcânica no período, algo inédito e inexistente na literatura.

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