Design Thinking para além do mundo empresarial

Projeto da Universidade de São Paulo une pesquisadores da casa e líderes locais em busca de melhor qualidade de vida nas comunidades

Como funciona o Design Thinking. Arte: Nara Siqueira

Por Nara Siqueira – nara.siqueira@gmail.com

Design Thinking é, de acordo com Charles Burnette, professor norte-americano e especialista no assunto, “um processo de pensamento crítico e criativo que permite organizar informações e ideias, tomar decisões, aprimorar situações e adquirir conhecimentos”. O método, comumente utilizado por empresas e agências de comunicação e marketing, vem sendo utilizado de uma maneira diferente pelo Núcleo de Pesquisas em Novas Arquiteturas Pedagógicas da USP: o intuito é capacitar líderes locais e educadores sociais a pensar em inovação, descobrindo problemas e encontrando saídas.

“O mais difícil é lidar com as expectativas. Porque, quando chegamos a um determinado local, as pessoas esperam que nós resolvamos os problemas delas, mas não é esse nosso objetivo”, explica Tânia Pereira Christopoulos, professora e pesquisadora integrante de um dos grupos de pesquisa do Núcleo. “A intenção é muni-las de ferramentas para que elas possam chegar a possíveis soluções sozinhas. Digo possíveis, porque um dos pressupostos da metodologia é que essa solução seja viável em todos os aspectos”, complementa.

Tudo começa pela empatia, a capacidade de se colocar no lugar de outrem. “Para compreender o que o outro sente, você precisa sentir também. Em 2012, fizemos algumas atividades com nossos alunos, uma delas foi colocar pesos de areia em suas pernas e pedir para que subissem as escadas, simulando a sensação que um idoso tem ao realizar tal tarefa”, conta Tânia. De acordo com a professora, é essencial utilizar ferramentas que criem um universo empático, porque, só assim, o estudante será capaz de pensar em um projeto prático e satisfatório que atenda às demandas.

A partir da análise do problema maior, o segundo passo é identificar os pequenos obstáculos que o compõem. Depois disso, a equipe, formada por pesquisadores, alunos e lideranças, vai à comunidade para conversar com os moradores. É a chamada fase de Imersão, na qual se busca o entendimento da situação.

O passo seguinte é o da Ideação: “Voltamos para o laboratório e, com os novos elementos que colhemos em campo, repensamos se, de fato, o que tínhamos definido antes ainda é válido”, relata Tânia. Outra parte essencial no processo é a definição da persona, uma personagem fictícia que representa tudo o que foi identificado e captado no local de ação. Essa persona consegue representar a comunidade e unir suas necessidades, resultando em um protótipo mais assertivo e direcionado.

O protótipo é o primeiro projeto de ação, gerado depois que todas as fases anteriores foram cumpridas. Depois de feito, é levado à comunidade para analisar suas reais condições e, por fim, testado na prática.

A primeira ação dessa natureza organizada pelo grupo de pesquisa foi em 2011. Nos anos seguintes, os alunos que tinham participado do projeto organizaram sozinhos workshops sobre o Design Thinking. “Isso nos surpreendeu porque acabamos alcançando um público maior do que o esperado”, afirma a pesquisadora. A iniciativa deu tão certo que, em 2012, o Núcleo recebeu a professora Marlei Pozzebon, da HEC Montréal, para pensar em metodologias alternativas, inclusive brasileiras, como as propostas por Paulo Freire e Augusto Boal, visando resultados ainda mais efetivos.

Além dos estudantes, professores e membros da comunidade acadêmica, a proposta do grupo foi fornecer os instrumentos aos moradores locais para que futuros problemas pudessem ser diagnosticados e resolvidos por eles próprios. Ou seja, compartilhamento de conhecimento e técnica com quem não tem acesso à universidade.

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